quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Sobre a adolescência e Dragon Ball Z




Desde antes de eu nascer, meninas brincam com bonecas, cozinhas, panelinhas (já treinando como serem donas de casa) e meninos brincam com armas, carrinhos, video game, lutinha. Fui uma criança criada pela avó, a qual era muito preocupada com a minha segurança, não podia falar com meninos, nem brincar com as outras crianças da rua (a unica coisa que podia e ninguém tinha medo de eu ser morta ou sumir e nunca mais voltar era ir no mercado, acho que assim que aprendi a caminhar, começaram a me mandar no mercado, what a karma!). Resumindo, eu assistia bastante televisão, tipo toda a programação desde 1993 até começar a estudar de tarde, ali por 1995 e depois disso a programação da manhã. Comecei a gostar mais de desenhos de menino do que de menina, cavaleiros do zodíaco, caverna do dragão, He-Man, homem aranha, batman. As meninas com quem eu convivia não assistiam esses desenhos e os meninos não conversavam comigo sobre isso por que...bem, eu era uma menina. 
Passei a assistir cavaleiros do zodíaco em segredo e pra falar a verdade nunca gostei de brincar de boneca. A unica barbie que ganhei na vida era a mal falada Barbie grávida. Eu odiava ela. Diante desses fatos, lembro da sensação de me sentir constantemente deslocada. É incrível como pode existir descriminações até nas coisas mais simples. 
 Mais tarde, ali pelos 12-13 anos, comecei a me interessar por (outros) desenhos japoneses (anime) e isso consumiu minha vida e dinheiro até os 17 anos. 
Quando encontrei na escola meninos e meninas que também gostavam disso, meu mundo, de alguma forma, ficou completo. Fui ainda mais aceita quando comecei a assistir Dragon Ball Z, que era também voltado para o público masculino. Todo dia ao sair da aula era uma corrida até em casa para ver o episódio inédito do desenho. Durante um tempo, ser fã de Dragon Ball me identificava como pessoa. 
Parece um grandessíssimo exagero, mas quem gosta de desenho japônes, sabe o quanto pode ser viciante e ao mesmo tempo legal pertencer a esse universo. 
Mais tarde, outras coisas começaram a ser mais importantes, comecei a me identificar com outras coisas e os animes perderam importância, embora eu sempre assistisse Dragon Ball nas madrugadas do Cartoon. 
Nessa última sexta-feira eu e o Ricky Ricardo (apenas fãs de I Love Lucy entenderão o apelido) fomos assistir no Cinépolis o filme Dragon Ball Z e a Batalha dos Deuses. Nostalgias à parte, nunca havia ido em uma sala de cinema com um público tão feliz e entusiasmado. Fomos imediatamente contagiados com o sentimento de estar vendo algo que marcou nossa adolescência, no cinema. Todos os personagens do desenho estavam no filme, era como se o tempo nunca tivesse passado. Confesso que lembrar de tempos em que as minhas únicas preocupações eram assistir o episódio da semana, comprar o mangá na banca e passar de ano, me deu uma sensação boa, de nostalgia mesmo, de lembrar como era bom ter todo o tempo do mundo para os hobbys e para o ócio. Pensando bem, a adolescência não foi tão ruim assim.