terça-feira, 20 de maio de 2014

Dos preconceitos cotidianos




" Em Los Angeles ninguém te toca. Estamos sempre atrás do metal e do vidro. Acho que sentimos tanta falta desse toque, que batemos uns nos outros só para sentir alguma coisa".






Esses dias assisti uma parte do filme "Crash", primeiro filme dirigido por Paul Haggis, roteirista do "Menina de Ouro". Já havia assistido no cinema em 2004 e mais umas duas vezes na televisão. Acho um filme sensacional e bastante cru para os padrões hollywoodianos. 
O tema central são os preconceitos cotidianos que estão profundamente enraizados no nosso inconsciente coletivo e já não conseguimos mais diferencia-los do que realmente somos.
No filme há diversas histórias que se cruzam após uma série de eventos fatídicos. Lembro que no cartaz do filme, a chamada era a seguinte "Até que ponto você se conhece"? Essa é a questão chave da trama. 

Você nega que segurou a bolsa com mais força quando um jovem negro e humilde passou por você de noite na rua? Nega que nunca falou coisas como "tinha que ser preto" "tinha que ser mulher" "tinha que ser nordestino"? Dentre outras  coisas, como mandar um mendigo trabalhar, dizer que homens tatuados são ex-presidiários? Eu não. 
Cometer esses, as vezes pequenos atos preconceituosos e, infelizmente comumente aceitos pela sociedade, é algo aceitável quando você ignora as consequências deste ato. Mas a partir de quando você toma consciência da realidade em que está inserido e do outro, a própria intolerância se torna intolerável.

O filme trata de alguns tipos de preconceitos: o latino tatuado que é taxado por vagabundo e marginal pelo imigrante iraniano, que tem sua loja assaltada e depredada com mensagens de ódio, que tem uma filha que é médica, a qual sofre preconceito no hospital que trabalha; o policial racista que aborda um casal de negros e ao revistar a mulher, abusa dela sexualmente e em casa sofre ao ver seu pai morrer de câncer sem poder fazer nada, devido ao péssimo sistema de saúde norte americano. Mais tarde, em um acidente de carro, salva a vida da mulher que abusou; o seu parceiro, que em um ato impulsivo mata um jovem negro, que por sua vez é irmão de um investigador da polícia que tem vergonha das suas raízes pobres; uma mulher rica e esnobe que maltrata sua empregada latina e depois de sofrer um acidente doméstico, a empregada é a única pessoa com quem pode contar; o cara parado pelo policial racista  é um famoso diretor de cinema que tenta esconder sua origem afro descendente fingindo que é budista e em casa é pressionado pela mulher para ser mais "homem", dentre outras pequenas histórias que se entrelaçam no decorrer da película. 

Traz-se à tona a questão do preconceito estereotipado: o negro, o latino, o tatuado, o imigrante, o rico, o pobre. Mas também, traz questões fortíssimas, fazendo o espectador se questionar, realmente, até onde ele se conhece? Me horrorizei com a cena em que o policial (Ryan Phillip) mata o jovem negro achando que ele iria puxar uma arma. Mas realmente, o que eu teria feito? Teria esperado ele TALVEZ puxar uma arma e pagado pra ver? Nem teria passado pela minha cabeça que ele puxaria uma arma? Teria agido igual ao policial? Não sei. 
O que eu teria feito se o policial (Matt Dylon, na melhor atuação da sua carreira) abusasse da minha esposa na minha frente? O desafiaria ? O ameaçaria? Teria ficado em choque, como o personagem? Teria agredido o policial e talvez levado um tiro ou apanhado? Não sei. 

O filme aproxima personagens de etnias e classes sociais diversas em situações fatídicas, demonstrando, sem filtros, que: não importa sua etnia, sua classe social, sua aparência, seu modo de vida, precisamos uns dos outros. Vivemos todos no mesmo planeta É absurdo nos afastarmos das pessoas por questões tão pequenas. É uma mensagem de solidariedade bem sutil, mas está lá, basta ver o filme umas três vezes como eu e absorver todas as suas nuances. 

Traço um paralelo (talvez aprofundado demais para uma pequena resenha) com algo muito mais subjetivo que essas discriminações escancaradas e muito mais brasileiro. Primeiro, o fato de que é comum no Brasil, o oprimido não saber que é oprimido e nem o que lhe oprime. O negro não sabe porque ganha menos que o branco que exerce a mesma função, apenas aceita. A mulher não sabe porque ganha menos que o homem que desenvolve a mesma função, apenas aceita. Não há mais levante, há irresignação, há uma nação de irresignados. 

Uso o exemplo da situação penitenciária. A mídia incentiva as massas a clamarem por mais punição e mais presídios, a diminuírem a maioridade penal, sem nenhum tipo de debate, sem opiniões divergentes. 
Por que há um programa que martela isso duas horas direto? Por que o pobre e negro é trancafiado e o policial que mata na favela e o rico que sonega impostos não são punidos? Não sei, mas se o Bonner falou que necessitamos de mais presídios, está certo. 
As massas não percebem que o problema carcerário não é penal, mas sim social. A mídia é (um dos) o instrumento opressor das massas no Brasil atualmente, um grande teatro de marionetes, disseminando toda a sorte de preconceitos e padrões de comportamentos. Não é uma tarefa para amadores se levantar contra o Grande Irmão, nem contra as injustiças, nem contra os preconceitos, nem contra as Rachel Sheherazade, mas continuamos na luta. 

Por fim e para fechar o raciocínio da proximidade entre os indivíduos, no filme também notei o medo dos personagens de se aproximarem do outro. E quando eles conseguem: ou se redimem, como a personagem da Sandra Bullock ou a distância apenas aumenta. 

O filme começa com a frase que inicia este post, "sentimos tanta falta desse toque, que batemos uns nos outros só para sentir alguma coisa". Moro em uma cidade que nem batendo na pessoa, sentiremos um calor, uma aproximação, um risco de reciprocidade, levamos no máximo um olhar carrancudo.

Enquanto não conhecermos o outro e o vermos como pessoa, como indivíduo, os preconceitos serão bandeiras de lutas eternas.

Até lá, a distância apenas aumenta.






segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Sobre o azul e a ninfomaníaca


AVISO: este blog está passando por uma mudança de conteúdo e layout. O conteúdo será alterado a partir deste post e o layout vai demandar um pouco mais de vontade para ser alterado (Roma não foi feita em um dia né, minha gente?)
O motivo da mudança de conteúdo é que, a ideia principal deste espaço era para ser de opiniões/resenhas e etc sobre cultura, cinema, política, direito, musica e coisas legais, ocorre que acabou se tornando uma espécie de diário da minha vida, a qual nem é tão interessante assim que necessite de um blog só pra ela. Mudou de nome também, fazendo referência direta ao café do seriado "Friends", que dispensa explicações :)


ATENÇÃO: este post contém SPOILERS!!


Para marcar a mudança do blog, escolhi dois filmes que estão sendo muito comentados nestas últimas semanas e envolvem, polemicamente (mamilos), cenas de sexo. 

O primeiro é o francês "Azul é a cor mais quente", do diretor Abdellatif Kechiche, o qual nunca havia ouvido falar até esse filme, mas já conta com mais de 5 películas na sua filmografia. Esse filme foi tão, mas tão comentado, teve recomendações tão boas e o trailer parecia tão, mas tão promissor que eu estava em cólicas para assistir. Pelo jeito eu nunca aprendo que não se pode criar expectativas em torno de um filme, NUNCA.

O segundo é "Ninfomaníaca", do Lars Von Trier. Confesso que eu não sou fã do Lars. Ele é o tipo de diretor que faz ora filmes geniais ("Dançando no escuro", "Dogville"), ora filmes horrorosos ("Anticristo", "Melancolia"), é um diretor difícil de se conceituar e CULTuar, em que pese seja absolutamente superestimado pelos fãs. 
O caso é que Ninfomaníaca mal tinha começado a ser divulgado e diversas opiniões foram disparadas. Há quem dissesse que era pornografia gratuita, algo desnecessário, polêmica para chamar a atenção, dividir o filme em duas partes pra ganhar dinheiro e etc. 

Bom, nem preciso falar que qualquer coisa que mexa com a sexualidade é algo que deixa as pessoas em polvorosa. Não pretendo, no entanto, entrar nesta discussão, pois teria que puxar Freud e questões sociológicas e o objetivo deste post não é bem esse. 

Quanto ao "Azul...", que pela temática do filme poderia ter mantido o titulo original, "a vida de Adèle", achei bem ruim. Explico. 
Não necessitaria ter 3 horas de filme para mostrar, basicamente, uma menina, que está descobrindo sua sexualidade, se apaixona por outra menina, faz merda (porque bem, ela é jovem e é um ser humano), sofre que nem um cachorro e o filme acaba com uma cena que tu não sabe se ela começou a superar aquilo ou vai pra casa se matar. O filme é resumidamente isso. 
Quanto às cenas de sexo, não achei desnecessárias, mas demasiado LONGAS! Comparo essa afirmação com "Shame" do Steve McQueen, com o Michael Fassbender, que mostra a vida de um homem ninfomaníaco. As cenas são curtas e o foco delas não é o ato em si, mas literalmente a expressão do personagem, seu prazer, vergonha, sofrimento e etc, do mesmo jeito que em "Ninfomaníaca"
Uma questão sobre o filme, que discuti com a minha amiga Renata é que se o tema fosse sobre dois meninos e eles tivessem uma cena de sexo de 8 minutos, pessoas teria saído da sala de cinema enojadas, isso é fato. Duas mulheres transando é algo que mexe com o imaginário masculino e é, sem sombra de dúvida, mais "aceito" pelo público em geral. Quando vejo algumas pessoas falando de relacionamentos entre mulheres, sempre me parece que elas não levam a sério, como se fosse uma moda inocente de meninas e que logo vai passar. Senti esse tipo de aceitação na sala de cinema. 
Não ouvi ninguém falar mal de "Azul...", pelo contrário, teve pessoas que queriam que a protagonista Adèle Exarchopoulos concorresse ao Oscar pela sua atuação (Hããã?)...
Sério, sério mesmo, ela fez uma das piores atuações que eu já vi em um filme francês. Ela passou todo o filme, eu disse todo o filme, com uma expressão de quem estava extremamente desconfortável ou chorando, tipo, chorando muito. Sem contar as cenas chatíssimas da vida dela: Adèle (que é o mesmo nome da personagem) dormindo, Adèle atrasada pro ônibus, Adèle na aula de francês. Sem sombra de dúvida, a Léa Seydoux fez uma atuação muito superior, não porque ela é a Léa Seydoux e ela é demais, mas porque ela atuou com muito mais naturalidade e fez mais que uma expressão facial ao longo da trama.
Porém, não se pode tirar o que é de César, há coisas muito boas no filme que merecem nota: a naturalidade das cenas do cotidiano, em que pese serem chatas, foram muito bem feitas, a rotina do relacionamento, seu auge, seu declínio, a briga, o sexo com as ressalvas acima, foi tudo muito realista e até bonitinho. As partes da Adèle dançando também são muito boas, parece que ela nem sabe que está sendo filmada.
Achei, que me perdoem os cultos ao filme, que um roteiro tão bom, poderia ter sido melhor explorado, de uma forma mais sensível, mais bonita e com certeza menos longa.

Quanto ao "Ninfomaníaca", esse filme é porreta, mas arretado mesmo! Primeiro foi um divisor de águas de opiniões. Ou as pessoas amaram ou as pessoas odiaram. Eu faço parte do grupo que adorou, como já deve ter percebido. 
Anunciado como uma pornografia barata, à lá Brasileirinhas Filmes, fui para o cinema muito, mas muito descrente. Depois que vi "Melancolia" estava com os dois pés atrás com o Lars Von Trier. Acontece que, desde a primeira cena, o filme é belíssimo, seja pela fotografia, seja pelo conflito psicológico da personagem, que dividiu sua história entre sua juventude e idade adulta, seja pelos comparativos da compulsão por sexo da personagem com a música de Bach, com a pescaria. Sim, claro, tiveram as mal faladas cenas de sexo, que (novamente) assim como "Shame", não foram desnecessárias, nem longas, nem vulgares: foram no ponto certo para o enredo cativar e convencer, pois mais uma vez, as cenas de sexo em si não eram o mais importante, mas o prazer da personagem, tanto que em muitas cenas a câmera foca apenas no seu rosto durante o ato. 
A atriz que faz a Joe quando jovem, Stacey Martin é divina, ela consegue transmitir a toda a indiferença, hedonismo e sei lá quais outros adjetivos que eu posso dar. E quanto à Charlotte Gainsbourg nem se fala. 
Poderia falar vários outros detalhes que eu adorei, o lance das folhas das árvores, o Shia Lebeouf (sim, eu adoro o Shia), a cena inicial, os diálogos entre a Joe e o cara para quem ela conta sua história, mas esse post está muito longo. 

Se você não dormiu até aqui ou não concordou com nada que eu disse, sugiro que assista os filmes com outros olhos. Eu posso assistir "Azul..." semana que vem e adorar, afinal, cada vez que você revê um filme, ele se transforma. 

Au revoir.



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Sobre a (falta de) ambição



Atenção!
Este post contém alta dose de conselhos chatos

.


Acho legal a ambição. Acho mesmo, principalmente se ela te impulsiona a buscar sempre mais e se superar gradativamente. Claro, quando essa ambição sai do controle, Houston, temos um problema. 

Visivelmente, peremptoriamente, não sou uma pessoa ambiciosa, sou totalmente o oposto, segundo o Aurélio, uma pessoa desprendida.
Na minha infância, ninguém sentou e me explicou a importância do dinheiro, que eu tinha que economizar, me deu um porquinho para guardar moedinhas ou alguma coisa do tipo, isso (e mais um monte de coisas) aprendi com a vida (nossa, que vivida ela é) e com as minhas experiências. Sempre quis fazer intercâmbio, ainda quero, mas ninguém havia me falado que é preciso economizar quando temos sonhos que custam dinheiro. Resultado: quando percebi isso, já era tarde, já tinha um trabalho que não podia abandonar, uma faculdade que precisava terminar e muitas outras obrigações se seguiram, esse sonho continua tão distante como esteve quando tinha 15 anos. A pergunta é: se eu fosse uma pessoa ambiciosa e tivesse aprendido a economizar  desde cedo, eu teria feito um intercâmbio? Acredito que sim, haja vista que a minha família pode ser considerada bem humilde. 
Por ser alguém extremamente avoada e desatenta, sempre vivi ao sabor do vento, sem planejamentos, agendas, planos de metas, objetivos definidos. Pode parecer algo positivo, até é, em partes, mas não nas finanças. Acredito que ninguém "vence na vida", no sentido financeiro da expressão sem ser ambicioso, por isso não entendo quando a minha família me aconselha a ser juíza porque "ganha mais".

Nunca me preocupei em acumular coisas, tudo aquilo que não me serve mais, dou para quem precisa ou vai dar mais utilidade que eu, tenho horror a guardar coisas desnecessárias. Procuro, da melhor forma, viver com o básico confortavelmente. Do mesmo jeito agia com o dinheiro. Não importava se uma coisa custasse 10 ou 100 reais, se eu tinha dinheiro, comprava. Isso acontecia principalmente com comida, sempre que estava com vontade de comer alguma coisa (vai, gordinha), não importava o preço, se já havia feito uma refeição, eu comprava. Ocorre que, chega um momento da vida que tu não consegue mais sair do lugar sem traçar um objetivo e fazer um planejamento. Quando percebi o quão irresponsável eu fui durante todo esse tempo, me deu um mini derrame. 

Vejo minhas amigas extremamente regradas com o dinheiro, falando que precisam checar suas finanças antes de ir numa festa e sinto uma tremenda inveja desta capacidade que elas tem em conseguir se planejar. Desenvolver, do nada, uma habilidade que eu nunca tive é uma tarefa árdua, das brabas. 

Quando você se prestar a ir morar sozinha ou com outra pessoa, a pagar aluguel, comer, ter um pouco de lazer, ter um lugar legal pra morar, ter um cachorro, suas prioridades precisam mudar rapidamente! é aquele momento que os seus tios e parentes chatos adoram rogar praga pra quem tem a vida melhor que a que eles tem ou tiveram "quando a água bater na bunda ela vai pular". Então, mais ou menos isso. Como falei em um post anterior, há coisas que se tornam como uma arma de choque para te mover do teu lugar ou da tua zona de conforto, e isso é super legal :)

Então, aconselho, a contrario sensu, ensinem seus filhos a fazerem planejamentos e saber o valor do dinheiro e não a serem ambiciosos, a ambição quando muito estimulada, leva a pessoa a sempre ir além, não nos seus objetivos, mas nos seus escrúpulos, tornando a visão  turva e os conceitos morais maleáveis. 
Aproveito este final de ano para iniciar o primeiro planejamento financeiro da minha vida, para o ano de 2014. Confesso que é essa atividade (chata) é mais fácil, quando cruzamos o nosso planejamento com o de outra pessoa. 






segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

sobre mudanças




Atenção!

este post contém alta dose de auto ajuda e mimimi zen. 


Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Don't wanna be a richer man
Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Just gonna have to be a different man
Time may change me
But I can't trace time



Após um breve recesso quando mal havia começado (veja bem que este é um blog político), volto com um assunto que permeia a nova fase pela qual estou (estamos) sempre passando: mudanças. 

Sempre gostei muito de mudar de opinião sobre tudo, principalmente sobre minhas convicções, por isso sou tão avessa à radicalismos de qualquer espécie. Esse mês completei 26 anos e creio que passo pela segunda maior mudança da minha vida (a primeira foi quando entrei na faculdade, aos 19 anos). 

Fatos que antes pareciam ser um castigo divino ou vingança por algum mal que tenha feito à humanidade, tornaram-se apenas um pontapé inicial para uma série de mudanças em todos os sentidos. Convivo com pessoas que mudam frequentemente a olhos vistos e outras que permanecem as mesmas, não importando os acontecimentos ou direções do vento em que são levadas, elas criaram espécies de raízes sob os pés e são ferrenhamente presas às suas ideias/ideologias, não importa o viés em que enxerguem os acontecimentos, suas ideias não se alteram. Olhando pra trás, acho que eu era assim também, em relação à mim mesma. 

Não só a mudança de residência, ir morar com um garoto, a formatura foram as mudanças deste período, as interiores foram muito maiores. 
Desde o fim do ano passado sofro de síndrome do pânico, estava certa que os céus se vingavam de mim, por algum motivo. No fim das contas, percebi que se não houvesse sucumbido às crises de pânico, ter que fazer terapia e etc, não teria puxado a alavanca para as mudanças que estão ocorrendo hoje. 

Me vejo, um tanto quanto surpresa, querer ter contato direto com plantas, animais, crianças, coisas que até ano passado queria distância. Quero me ver em um relacionamento monogâmico, acreditando que ele vai dar certo, imagino até casar, olha só que coisa. Me voltei para a minha espiritualidade e passei a alterar meu modo de vida, cultivando pensamentos bons, coisas boas, vendo o melhor nas pessoas, sendo otimista. Claro que não é uma tarefa fácil, é dificílimo nos livrarmos de um padrão de pensamento, mas um dia eu chego lá. 
Desisti, definitivamente, de deixar crescer meus cabelos, passei a cuidar da minha saúde, parei de beber, estou parando de fumar, passei a fazer exercícios físicos e principalmente, reeducar a alimentação. Comecei a valorizar as pessoas que valem a pena e aproveitar com sabedoria o meu tempo (que é cada vez menor). Descobri que sempre podemos ser mais felizes, melhores, mais inteligentes e mais maduros do que somos, a mudança (na sua essência) não tem prazo e não tem limites. 

Disseram que essa mudança mais subjetiva ocorre por volta dos 40, comigo ocorreu agora e, já que nada na vida nada acontece por acaso, creio que há algo de muito positivo em tudo o que está ocorrendo, talvez eu não veja seus reflexos agora ou daqui há um ano, mas esperarei por isso pacientemente, sabendo que nada que se faça numa boa é em vão.

Se você conseguiu ler até aqui sem embrulhar o estômago, saiba que desejo que a sua vida seja uma eterna transformação, sempre pra melhor, sempre em busca de algo positivo. 
Já não sinto falta da pessoa que eu era um ano atrás, antes da síndrome do pânico, antes do meu mundo virar de cabeça pra baixo, porque quando eu voltei ao meu lugar, olhei o horizonte e percebi que ele já não era o mesmo, e nem eu. 


Namastê!


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Sobre a adolescência e Dragon Ball Z




Desde antes de eu nascer, meninas brincam com bonecas, cozinhas, panelinhas (já treinando como serem donas de casa) e meninos brincam com armas, carrinhos, video game, lutinha. Fui uma criança criada pela avó, a qual era muito preocupada com a minha segurança, não podia falar com meninos, nem brincar com as outras crianças da rua (a unica coisa que podia e ninguém tinha medo de eu ser morta ou sumir e nunca mais voltar era ir no mercado, acho que assim que aprendi a caminhar, começaram a me mandar no mercado, what a karma!). Resumindo, eu assistia bastante televisão, tipo toda a programação desde 1993 até começar a estudar de tarde, ali por 1995 e depois disso a programação da manhã. Comecei a gostar mais de desenhos de menino do que de menina, cavaleiros do zodíaco, caverna do dragão, He-Man, homem aranha, batman. As meninas com quem eu convivia não assistiam esses desenhos e os meninos não conversavam comigo sobre isso por que...bem, eu era uma menina. 
Passei a assistir cavaleiros do zodíaco em segredo e pra falar a verdade nunca gostei de brincar de boneca. A unica barbie que ganhei na vida era a mal falada Barbie grávida. Eu odiava ela. Diante desses fatos, lembro da sensação de me sentir constantemente deslocada. É incrível como pode existir descriminações até nas coisas mais simples. 
 Mais tarde, ali pelos 12-13 anos, comecei a me interessar por (outros) desenhos japoneses (anime) e isso consumiu minha vida e dinheiro até os 17 anos. 
Quando encontrei na escola meninos e meninas que também gostavam disso, meu mundo, de alguma forma, ficou completo. Fui ainda mais aceita quando comecei a assistir Dragon Ball Z, que era também voltado para o público masculino. Todo dia ao sair da aula era uma corrida até em casa para ver o episódio inédito do desenho. Durante um tempo, ser fã de Dragon Ball me identificava como pessoa. 
Parece um grandessíssimo exagero, mas quem gosta de desenho japônes, sabe o quanto pode ser viciante e ao mesmo tempo legal pertencer a esse universo. 
Mais tarde, outras coisas começaram a ser mais importantes, comecei a me identificar com outras coisas e os animes perderam importância, embora eu sempre assistisse Dragon Ball nas madrugadas do Cartoon. 
Nessa última sexta-feira eu e o Ricky Ricardo (apenas fãs de I Love Lucy entenderão o apelido) fomos assistir no Cinépolis o filme Dragon Ball Z e a Batalha dos Deuses. Nostalgias à parte, nunca havia ido em uma sala de cinema com um público tão feliz e entusiasmado. Fomos imediatamente contagiados com o sentimento de estar vendo algo que marcou nossa adolescência, no cinema. Todos os personagens do desenho estavam no filme, era como se o tempo nunca tivesse passado. Confesso que lembrar de tempos em que as minhas únicas preocupações eram assistir o episódio da semana, comprar o mangá na banca e passar de ano, me deu uma sensação boa, de nostalgia mesmo, de lembrar como era bom ter todo o tempo do mundo para os hobbys e para o ócio. Pensando bem, a adolescência não foi tão ruim assim. 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Das coisas que deixamos pelo caminho


Atenção!

Este post contém altas doses de auto ajuda.

Hoje acordei com pensamentos muito profundos. Lembrei o quanto eu sou diferente do que eu era ano passado, e há 5 anos atrás, e há 10. Lembrei de pessoas com quem eu não falava mais e não consegui lembrar o motivo do afastamento. Acho que tem coisas que acontecem naturalmente, como deixar coisas pelo caminho. Não seria possível manter contato com todas as pessoas que conheci ao longo da vida, porque as coisas podem mudar em  um segundo. Você pode mudar de cidade (ou mudar, simplesmente), pode iniciar um relacionamento e se afastar, entrar em uma rotina maluca, morrer. Nada garante a permanência das pessoas ao teu lado. E esse blá, blá, blá de que "se a pessoa ficou do seu lado e manteve contato ela é especial", bobagem! Tem pessoas que ficam ali porque não tem pra onde ir. E essas pessoas são absolutamente desnecessárias. 
Não só abandonamos pessoas, mas também maus hábitos, vícios, relacionamentos destrutivos, alguns defeitos. E claro, sempre tem a possibilidade de adquirirmos tudo isso também. Comecei a fumar aos 15 anos por pura influência. Em 2002 fumar ainda era cool. Se aos 15 anos eu tivesse a personalidade que tenho hoje, jamais teria começado a fumar. Não teria feito um monte de besteiras também. Mas como a vida não é um livro do H.G Wells, não podemos voltar no tempo, mas sim saber o que fazer do tempo que nos é dado (profundo, hein?!). 
Acho que mais importante que me perguntar o motivo pelo qual deixei coisas e pessoas pelo caminho, é saber que tudo o que aconteceu, foi para eu me tornar quem sou hoje, cercada apenas de pessoas por quem vale a pena se importar, e seguir em frente. 

Pensando em tudo isso, cheguei à conclusão de que mesmo se tivesse sido uma pessoa diferente, tivesse estudado em outras escolas, conhecido outras pessoas, viajado mais, feito outra faculdade, não seria eu, seria outra pessoa e, olhando para trás, eu gosto de ser como sou, e de estar onde estou e de fazer o que eu faço. Aos 15 anos achava que se sentir aceita era o mais importante. Hoje eu sei que há muito mais. E perceber tudo isso, é apenas o início. 


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Sobre o Ricardo (o Darín)



Há dois Ricardos muito importantes na minha vida, um deles é o meu namorado/companheiro, o qual talvez/ um dia terá um post só pra ele. 
O Ricardo deste post é o Ricardo Darín, o ator argentino que eu simplesmente adoro. 

Não faz muito tempo que comecei a me interessar por cinema latino americano, posso colocar toda a culpa no cineclube "cine como le gusta" do qual eu fazia parte até meados de 2010. O cinema latino americano é tão maravilhoso que merece um post só pra ele, por isso paro por aqui essa consideração. 

 O primeiro filme que assisti com o Darín, foi por indicação de um membro do cine, "o segredo dos seus olhos", filme oscarizado que envolve a temática que eu mais gosto: a solução de um crime. Fiquei tão fascinada com a forma como o cinema argentino tratou essa questão que fui atrás de outros filmes e de outros e de outros.

 "Abutres" também foi indicado por um amigo que compartilha do mesmo gosto que eu tenho por "thrillers". O filme tem a fotografia tão escura que há cenas que quase não dá pra se perceber o que se passa e o roteiro é bem simples, um advogado que faz plantão em hospitais para captar clientes que foram vítimas de acidentes de trânsito que conhece uma médica viciada em sei lá o que (morfina?), e o mais legal de tudo: tem que ter estômago pra ver até o fim. 

Outros mais bonitinhos são "O filho da Noiva" e "Clube da Lua" dirigidos pelo Juan José Campanella, o mesmo de o segredo dos seus olhos e pra mim o melhor diretor argentino.
Ambos são bem engraçados, o mais interessante é que havia assistido antes do "segredo..." e não tinha dado a menor bola ( tinha um certo preconceito por filmes que não fossem falados em inglês). 

Outro bem engraçado é "Um conto chinês", que é basicamente sobre um dono de uma ferragem (que pelo jeito sofre de TOC) tentando ajudar um chinês que não fala nada em espanhol. 
O ultimo lançado no Brasil é "Tese sobre um homicídio" que estava em cartaz no cine do Ordovás até esse domingo e não pude assistir, uma lástima!

Outro diretor argentino que também é muito bom e tem uma parceria com o Darín é o diretor Pablo Trapero, que dirigiu "Abutres" e "Elefante Branco", além do ótimo " Família Rodante", que não é com o Darín, mas vale mencionar. 
Enfim, sempre que me pedem dica de filmes, logo indico algum desse ator e coitadas das pessoas que me pedem, logo começo a falar sobre todos os filmes dele (sou um tanto quanto prolixa quando se trata de cinema). 

Poderia falar muito mais de cada filme ou de muitos outros, mas acho melhor parar por aqui antes que ninguém consiga ler esse post até o final. 
Tenho que mencionar, por fim, que nunca vou esquecer uma reflexão do personagem Sandoval do "Segredo dos seus olhos", quando ele fala: 

"as pessoas podem mudar tudo, de casa, de cara, de família...namorada, religião, de Deus. Mas tem uma coisa que não se pode mudar, não se pode trocar de paixão."

A paixão do Sandoval era a bebida, a do Benjamin (Darín) era a assessora do Juiz, Irene. Fiquei horas depois do filme pensando qual era a minha...bem, são tantas que ainda não me decidi!